Dissertação de mestrado derruba mito do uso seguro de agrotóxicos
Por Any Cometti, em Século
Diário
A Campanha Contra os Agrotóxicos divulgou uma
pesquisa que comprova a inviabilidade do uso seguro de agrotóxicos.
A dissertação de mestrado do pesquisador Pedro Henrique de Abreu
conclui claramente que “[não existe] viabilidade de
cumprimento das inúmeras e complexas medidas de “uso seguro” de
agrotóxicos no contexto socioeconômico destes trabalhadores
rurais”. O trabalho foi aprovado no Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
A pesquisa foi feita no município de Lavras (MG),
onde foram visitadas 81 unidades de produção familiar em 19
comunidades. O pesquisador tentou verificar a viabilidade do
cumprimento dos manuais de segurança da indústria química e do
Estado na agricultura familiar. Durante a pesquisa, foi possível
constatar que a aquisição dos agrotóxicos é feita sem perícia
técnica e a receita é fornecida por funcionários das lojas, sem
que os agricultores recebam instruções na hora da compra.Além
disso, o transporte dos produtos tóxicos é feito nos veículos
convencionais, que não atendem aos requerimentos de segurança. Os
agricultores também não recebem os documentos de segurança
necessários para a operação.
Essas constatações
derrubam o mito de que existe um possível uso seguro de agrotóxicos.
O pesquisador constatou ainda que o armazenamento dos produtos nas
propriedades rurais é inadequado e que o tamanho das terras impede
que seja respeitada a distância segura entre o local das aplicações
e as casas e fontes de água. A lavagem dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPI), usados na aplicação dos agrotóxicos, também é
inadequada, sendo comparada a uma atividade doméstica comum e
realizada sem que qualquer cuidado.
Diversas pesquisas anteriores já alertaram para o
perigo do contato e do uso de agrotóxicos, tanto para aqueles que o
manuseiam quanto para os que o consomem o alimento contaminado. Em
fevereiro deste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição
referência em pesquisas no setor da saúde no Brasil, publicou uma
carta aberta à sociedade brasileira em que considera inaceitáveis
as recentes modificações na legislação que regula o uso de
agrotóxicos no País. No documento, a Fiocruz reitera o perigo ao
qual estão expostos trabalhadores e moradores de áreas rurais;
trabalhadores das campanhas de saúde pública e de empresas de
desinsetização; e populações indígenas, quilombolas e
ribeirinhas, extremamente vulneráveis à ação dos grandes
latifundiários. Os riscos, perigos e danos provocados à saúde
pelas exposições agudas e crônicas dessas populações aos
agrotóxicos são incontestáveis, segundo a instituição, com base
na literatura científica internacional.
Um dossiê da Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco) apontou que dos 50 produtos mais utilizados nas
lavouras brasileiras, 22 são proibidos na União Europeia, o que faz
com que o país seja o maior consumidor de agrotóxicos já banidos
em outros locais do mundo, de acordo com a entidade. Estudos
publicados por pesquisadores do País comprovam que a exposição
prolongada aos agrotóxicos causa ataques ao sistema nervoso, ao
sistema imunológico, má formações, atinge a fertilidade, e possui
efeitos cancerígenos.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), órgão responsável por liberar tais produtos
no país, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190% nos
últimos 10 anos, um ritmo muito mais acentuado do que o do mercado
mundial, que foi de 93% no mesmo período. Desde 2008, o Brasil é
campeão global no uso de agrotóxicos e atualmente concentra cerca
de 20% do uso mundial. O Espírito Santo, que já foi campeão
brasileiro, é o terceiro da federação que mais faz uso de
agrotóxicos.


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