A cultura pin-up: libertação ou aprisionamento?
por Paulo Spolidório
"A ascensão da cultura pin-up favoreceu um
viés de libertação e exaltação do ícone da mulher na sociedade. Contudo, o
fluxo libertário foi apenas uma perspectiva do conceito. A ascensão da
sensualidade farta e da superexposição do corpo prestou um serviço à
massificação social e ao hedonismo, típicos das sociedades de consumo".
Na alvorada do século XX, surgem algumas
gravuras que retratam uma tímida sensualidade feminina, tipicamente americana.
Nas mãos de artistas como Charles Dana Gibson, as formas das mulheres começaram
a se desnudar para o mundo pop. Estava criado o movimento que seria o início da
cultura pin-up.
A partir dos anos de 1910 e 1920, as formas
retratadas despretensiosamente passaram a contar com forte apelo sensual.
Gravuras com doses de erotismo, e com certa inocência insinuante, com garotas
"prontas para pendurar", fizeram a cabeça do público masculino à
época. Não demorou para que o sucesso das ilustrações ganhassem vida e se
cristalizasse nas linhas da fotografia e do cinema, na correnteza dos anos 40 a
60. Atrizes como Greta Garbo, Betty Grable, Lauren Bacall e posteriormente,
Marilyn Monroe, deram brilho real ao que antes eram apenas traços e sombras de
uma sensualidade incipiente.
As garotas pin-up povoaram o imaginário
masculino e se desdobraram em outras personagens, igualmente provocantes e
vanguardistas, como a dama burlesca, a heroína dos filmes noir,
desembocando finalmente no neopin-up, em dias mais atuais.
Beldades caucasianas, com corpos torneados,
cinturas finas, olhos claros, convidativos, e seios fartos, além de colorirem o
imaginário masculino também foram símbolo da autolibertação da mulher contra o
tradicionalismo e conservadorismo das primeiras décadas do século passado. Um
erotismo capaz de afirmar o caminho do feminismo. As curvas sinuosas passaram a
ser o ícone da busca pela independência da mulher, a busca da igualdade entre
os gêneros, o combate à opressão e à submissão em relação ao "sexo forte".
Não há como negar, entretanto, o caráter
contraditório que trazia o conceito. De um lado, a criação e a difusão
libertária da cultura pin-up como consolidação da expressividade da
mulher e de autocelebração da sociedade, de outro, por sua vez, o intuito de
promover a estética da sedução e de idolatria masculinas, típicos de uma
sociedade patriarcal e machista. Assim, inaugura-se com a cultura pin-up,
indubitavelmente, a era da sexualidade objeto, do corpo da fêmea como produto,
devendo como tal ser adequado aos padrões e estereótipos de beleza - uma
espécie de aprisionamento - como contraponto da libertação.
A ascensão da cultura pin up coroa a
sociedade-sedução, a sociedade-hedonismo, na qual o capital erótico ganha
espaço estratégico e presta-se de sustentáculo à lógica consumista e
individualista, em que tudo torna-se mercadoria, da pasta de dentes ao
automóvel, de armas nucleares ao próprio corpo biológico.
A padronização do corpo feminino e seu
enclausuramento em padrões pré-definidos foi o contraponto importante da
libertação da mulher, sugerida pela ascensão da cultura pop das pin-ups.
A desmitificação da sensualidade e a exposição provocativa do corpo também
resultou na massificação dessa sensualidade, do sexo prêt-à-porter, e
por que não dizer, do esvaziamento das relações em prol de imagens ideais de
beleza, perseguidos até os dias atuais.
Libertárias ou massificadoras, as imagens de
garotas pin-up ainda povoam a memória cultural pop do século XXI e sustentam
personagens da fotografia, moda e cinema atuais.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/andancas_e_palavras/2013/08/a-cultura-pin-up-libertacao-ou-aprisionamento.html#ixzz3AdldQXHM
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