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domingo, 17 de agosto de 2014

A cultura pin-up: libertação ou aprisionamento?



A cultura pin-up: libertação ou aprisionamento?
"A ascensão da cultura pin-up favoreceu um viés de libertação e exaltação do ícone da mulher na sociedade. Contudo, o fluxo libertário foi apenas uma perspectiva do conceito. A ascensão da sensualidade farta e da superexposição do corpo prestou um serviço à massificação social e ao hedonismo, típicos das sociedades de consumo".


Na alvorada do século XX, surgem algumas gravuras que retratam uma tímida sensualidade feminina, tipicamente americana. Nas mãos de artistas como Charles Dana Gibson, as formas das mulheres começaram a se desnudar para o mundo pop. Estava criado o movimento que seria o início da cultura pin-up.
A partir dos anos de 1910 e 1920, as formas retratadas despretensiosamente passaram a contar com forte apelo sensual. Gravuras com doses de erotismo, e com certa inocência insinuante, com garotas "prontas para pendurar", fizeram a cabeça do público masculino à época. Não demorou para que o sucesso das ilustrações ganhassem vida e se cristalizasse nas linhas da fotografia e do cinema, na correnteza dos anos 40 a 60. Atrizes como Greta Garbo, Betty Grable, Lauren Bacall e posteriormente, Marilyn Monroe, deram brilho real ao que antes eram apenas traços e sombras de uma sensualidade incipiente.
As garotas pin-up povoaram o imaginário masculino e se desdobraram em outras personagens, igualmente provocantes e vanguardistas, como a dama burlesca, a heroína dos filmes noir, desembocando finalmente no neopin-up, em dias mais atuais.
Beldades caucasianas, com corpos torneados, cinturas finas, olhos claros, convidativos, e seios fartos, além de colorirem o imaginário masculino também foram símbolo da autolibertação da mulher contra o tradicionalismo e conservadorismo das primeiras décadas do século passado. Um erotismo capaz de afirmar o caminho do feminismo. As curvas sinuosas passaram a ser o ícone da busca pela independência da mulher, a busca da igualdade entre os gêneros, o combate à opressão e à submissão em relação ao "sexo forte".
Não há como negar, entretanto, o caráter contraditório que trazia o conceito. De um lado, a criação e a difusão libertária da cultura pin-up como consolidação da expressividade da mulher e de autocelebração da sociedade, de outro, por sua vez, o intuito de promover a estética da sedução e de idolatria masculinas, típicos de uma sociedade patriarcal e machista. Assim, inaugura-se com a cultura pin-up, indubitavelmente, a era da sexualidade objeto, do corpo da fêmea como produto, devendo como tal ser adequado aos padrões e estereótipos de beleza - uma espécie de aprisionamento - como contraponto da libertação.
A ascensão da cultura pin up coroa a sociedade-sedução, a sociedade-hedonismo, na qual o capital erótico ganha espaço estratégico e presta-se de sustentáculo à lógica consumista e individualista, em que tudo torna-se mercadoria, da pasta de dentes ao automóvel, de armas nucleares ao próprio corpo biológico.
A padronização do corpo feminino e seu enclausuramento em padrões pré-definidos foi o contraponto importante da libertação da mulher, sugerida pela ascensão da cultura pop das pin-ups. A desmitificação da sensualidade e a exposição provocativa do corpo também resultou na massificação dessa sensualidade, do sexo prêt-à-porter, e por que não dizer, do esvaziamento das relações em prol de imagens ideais de beleza, perseguidos até os dias atuais.
Libertárias ou massificadoras, as imagens de garotas pin-up ainda povoam a memória cultural pop do século XXI e sustentam personagens da fotografia, moda e cinema atuais.

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