trechos de "O primeiro terço" - publicado em 1971, por Lawrence Ferlinghetti
"É claro que, convivendo com homens humilhados, apesar da rispidez que às vezes
possuíam, conquistei certas liberdades pouco ortodoxas e que normalmente os garotos
americanos de seis anos não possuíam. Também, meu pai, geralmente bêbado (ou a
caminho desse estado), era necessariamente um pouco frouxo na disciplina. Ainda assim,
eu não me aproveitava dele, pois amava o velho de verdade.
A falência chegou mais rápido do que parecia possível. Se o crack da bolsa de valores de
outubro de 1929 não tivesse ocorrido, pode-se imaginar que a família continuaria
moderadamente bem por mais alguns anos, pelo menos. Mas não foi assim, todo mundo
em Denver parecia ter ficado duro ao mesmo tempo... Foram dez anos, e mais ainda para
alguns, até que a família tivesse o bastante para comer e de qualquer forma vivia à beira damiséria a cada dia.No outono de 1932, porém, logo que eu cheguei, recém saído dos vadios letárgicos do
Metropolitan, aquele era um lugar bem infame, conhecido principalmente como uma
fortaleza da bebida clandestina, embora também notório, pelo menos no lado leste, por
seus personagens, que eram típicos mas bastante incomuns a sua própria maneira: expresidiários, pervertidos, um ou dois músicos de jazz, diversas prostitutas (em geral sem
cafetão), viciados (na maioria alcoólatras) e um grande número de jovens muito loucos."
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