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sexta-feira, 30 de março de 2012

Alan Ginsberg

O Uivo
Para Carl Solomon
 I

"Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela 
    loucura, morrendo de fome, histéricos, nus, 
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
    em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo
    contato celestial com o dínamo estrelado da 
    maquinaria da noite,
que pobres esfarrapados e olheiras fundas, viajaram 
    fumando sentados na sobrenatural escuridão dos
    miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
    sobre os tetos das cidades contemplando o jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado
    e viram anjos maometanos cambaleando iluminados
    nos telhados das casas de cômodos,
que passaram por universidades com olhos frios e 
    radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz 
    de Blake entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos
    & publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
    descascada em roupa de baixo queimando seu 
    dinheiro em cestos de papel escutando o Terror 
    através da parede,
que foram detidos em suas barbas púbicas voltando
    por Laredo com um cinturão de marihuana para 
    Nova Iorque,
que comeram fogo em hotéis mal pintados ou
    beberam terebentina em Paradise Alley, morreram ou
    flagelaram seus torsos noite após noite com
    som, sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
    álcool e caralhos em intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula,
    e clarão na mente pulando nos postes dos pólos de 
    Canadá & Paterson, iluminando completamente o
    mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de 
    quintal das verdes árvores do cemitério, porre de vinho
    nos telhados, fachadas de lojas de subúrbio 
    na luz cintilante de neon do tráfego na 
    corrida de cabeça feita do prazer, vibrações de 
    sol e lua e árvore no tronco de crepúsculo de 
    inverno de Brooklyn, declamações entre latas 
    de lixo e a suave soberana luz da mente,
que se acorrentaram aos vagões do metrô para o
    infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx
    de benzedrina até que o barulho das rodas e 
    crianças os trouxesse de volta, trêmulos, a boca 
    arrebentada o despovoado deserto do cérebro
    esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do Zoológico,
que afundaram a noite toda na luz submarina 
    de Bickford´s, voltaram à tona e passaram a tarde
    de cerveja choca no desolado Fuggazi´s escutando
    o matraquear da catástrofe na vitrola 
    automática de hidrogênio,
que falaram setenta e duas horas sem parar do
    parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao 
    Museu à Ponte do Brooklyn,
batalhão perdido de debatedores platônicos saltando
    dos gradis das escadas de emergência dos parapeitos
    das janelas do Empire State da Lua,
tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos
    e lembranças e anedotas e viagens visuais e choques
    nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total 
    com os olhos brilhando por sete dias e noites,
    carne para a sinagoga jogada à rua,
que desapareceram no Zen de Nova Jersey de 
    lugar algum deixando um rastro de postais ambíguos
    do Centro Cívico de Atlantic City..."

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