domingo, 12 de outubro de 2014
Nós queremos a lua...
"É construir uma ponte para a utopia numa sociedade que em primeiro lugar vão ser expropriados todos os meios de produção. Seremos todos os trabalhadores proprietários desse meio de produção. Isso é necessário, mas não é o suficiente. É necessário mais uma coisa. É necessário que desde já a gente recoloque a questão da felicidade e do prazer. Uma revolução, uma mudança radical na sociedade que não fale da felicidade e do prazer, que não fale da possibilidade de todos nós reconhecendo todas as diferenças, podemos conviver enquanto trabalhadores, não terá cumprido seu papel. Nós somos uma crítica viva e real hoje ao socialismo existente. E a retomada de toda a raiz libertária do socialismo que foi esquecida durante muitos anos por vários movimentos. Esquecida inclusive porque a partir de um determinado momento a classe operária tomou o poder no Estado e o Estado virou uma razão pra classe operária. É preciso que o Estado seja destruído e que a gente esqueça a razão de Estado. A nossa referência não pode ser a instituição. A nossa referência deve ser a massa em movimento. E esse movimento não são somente os movimentos reivindicativos. São as festas. E é importante fazer festas.
Existe hoje aqui um grande discurso, como houve um grande discurso no dia 21, no largo 13, que é o discurso do grupo, que é o discurso do conjunto, que é o discurso do coletivo e que é o discurso da utopia, que é a felicidade. E nós temos que nos comprometer a construir desde agora, desde já, a ponte pra nós chegarmos a essa felicidade. Não dá pra deixar esses temas pra depois, não dá pra tratar só da economia. É preciso tratar do que vai por dentro de cada um de nós. É preciso tratar de toda a ansiedade, de todos os desejos, de toda a perspectiva, de todo o sonho que temos dentro da gente e que a classe trabalhadora toda em conjunto tem dentro de si. Isso é fundamental pra gente chegar lá. Do contrário, nós viraremos uns burocratas, uns velhos, queremos um estado na mão, um aparelho, uma máquina. Teremos um Estado forte, faremos guerras, e não faremos nada além disso. Daremos mais um sapato pra João, mais um vestido pra Maria, mas a felicidade não é só isso, embora isso seja indispensável pra felicidade. Nós queremos o sonho.
Como diria Calígula, nós queremos a lua, algo que seja aparentemente impossível. E nós teremos a lua."
Depoimento de Alípio Freire no documentário "Nada Será Como Antes. Nada?", de Renato Tapajós
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