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quinta-feira, 24 de abril de 2014

a boa e a má notícia sobre Thomas Piketty


A boa e a má notícia sobre Thomas Piketty

 por Paulo Brabo




O assunto do momento entre os pen­sa­do­res econô­mi­cos norte-americanos é o francês Thomas Piketty, autor de Capital in the Twenty-first Century (2013).
A boa notícia é que o livro “assom­bro­sa­mente bem docu­men­tado” de Piketty está con­ven­cendo os ame­ri­ca­nos do que deveria parecer óbvio: que o capi­ta­lismo produz e acentua a desi­gual­dade econômica e social.
Que o capi­ta­lismo tende a enri­que­cer os pro­pri­e­tá­rios do capital e a empo­bre­cer todos os outros já dizia, com o perdão da palavra, Marx. A con­tri­bui­ção de Piketty está em explicar porque os pen­sa­do­res neo­li­be­rais acreditam no contrário. O problema, explica ele, está em que o pen­sa­mento neo­li­be­ral – “num mercado livre todos acabam ganhando” – nasceu num momento econômico que mostrou ser uma exceção histórica: o período entre 1913 e 1973.
Nessa idade do ouro do capi­ta­lismo as economias da Europa ocidental e dos Estados Unidos de fato se expan­di­ram e a desi­gual­dade econômica de fato diminuiu, mas em termos esta­tís­ti­cos o período foi uma aberração, uma exceção tran­si­tó­ria. Piketty explica que se nesse período a distância entre pobres e ricos diminuiu não foi devido ao livre-mercado, mas aos efeitos com­bi­na­dos de duas guerras mundiais e da Grande Depressão. Hoje em dia os índices demons­tram que a distância entre pobres e ricos apenas aumenta mas, com base no otimismo enganoso nascido naquele período de exceção, os neo­li­be­rais continuam a insistir1 que o capi­ta­lismo sem rédeas acabará pro­du­zindo, sem qualquer neces­si­dade de inter­ven­ção, a justiça social e econômica.
Com Marx, Thomas Piketty sustenta que a distância crescente entre pobres e ricos tende a produzir tensões insu­por­tá­veis; porém onde Marx celebrava o fato de que a tensão acabaria pro­du­zindo a revolução, Piketty lamenta que a tensão poderá acabar invi­a­bi­li­zando o capitalismo.
E é essa a má notícia: Piketty quer manter vivo o capi­ta­lismo por mais algumas décadas, e está apostando que essa sobrevida estarão dispostos a bancar aqueles que mais se bene­fi­ciam com ele.
Como o único modo de prolongar a vida útil da máquina capi­ta­lista é tolhendo a distância crescente entre ricos e pobres, Piketty está evan­ge­li­zando uma solução: uma taxa global (isto é, válida em todo o planeta) e pro­gres­siva (isto é, quem é mais rico paga mais) sobre fortunas acima de um milhão de euros.
A saída paradoxal para o capi­ta­lismo seria, portanto, fomentar alguma dis­tri­bui­ção – não de renda, mas de capital:
«A solução é reformar a estrutura econômica americana de modo a que os tra­ba­lha­do­res possam suple­men­tar os seus salários através de posse de capital e de sig­ni­fi­ca­ti­vas rendas de capital e par­ti­ci­pa­ção nos lucros.»
Colocado de outro modo: num mundo perfeito seremos todos capitalistas.
Fique bem entendido que a declarada ambição de Piketty (e dos seus admi­ra­do­res) não é bene­fi­ciar os pobres, mas via­bi­li­zar o capi­ta­lismo, garan­tindo a explo­ra­ção de recursos e de gentes por um pouco mais de tempo e adiando a alter­ca­ção final. Se o mundo capi­ta­lista adotará a solução de Piketty (ou uma seme­lhante) só o tempo pode dizer. Ninguém gosta de pagar taxas pela pros­pe­ri­dade, mas um ver­da­deiro capi­ta­lista não poupará um dedo ou dois para manter viva a galinha dos ovos de ouro.


SE VOCÊ NÃO FAZ IDEIA DO QUE É NEO­LI­BE­RA­LISMO OU DE PORQUE TEM ESSE NOME:
A liberdade não nos libertará, na Bacia das Almas
SOBRE AS IDEIAS DE THOMAS PIKETTY E SEU IMPACTO NOS ESTADOS-UNIDOS:
Capital Man, em The Chronicle of Higher Education (em inglês)

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