FABIO LUZ
“Que
ninguém espere beneficiar-se com o porvir da sociedade libertária. Mas
trabalharemos para que alguém o seja e que isso constitua nossa maior
satisfação. Que importa o demais se nos anima a convicção de que o sublime
ideal da anarquia amanhã será uma realidade?” Fábio Luz – 1933
A 9 de maio de 1938 falecia, no Rio de Janeiro, Fábio Luz, um
dos mais destacados militantes na história do movimento anarquista na cidade.
Nascido a 31 de julho de 1864 em Valença, Bahia, Fábio Lopes dos Santos Luz foi
médico, jornalista, escritor e professor.
Filho de um funcionário público e de uma professora, já na
juventude indignou-se ao ver o pai registrar a venda de escravos e com a
violência de policiais negros contra outros negros escravos. Tornou-se, então,
abolicionista e, logo em seguida, republicano, pois acreditava que a república
levaria a uma situação de justiça social. Durante seu curso de medicina,
descobriu, em uma livraria de Salvador, o livro Palavras de um Revoltado de
Kropotkin, o que o levou ao anarquismo. No entanto, Fábio Luz só viria a
descobrir a existência do anarquismo organizado no Rio de Janeiro no início do
século XX.
Sua mudança para a então ainda capital do Império ocorreu em 1888,
logo após sua formatura em medicina, quando defendeu a tese Hipnotismo
e Livre Arbítrio, considerada por alguns como precursora das
teorias psicanalíticas. Exercendo as funções de médico higienista e, a partir
de 1893, as de inspetor escolar, Fábio Luz entra em contato com os graves
problemas sociais da população carioca. Por volta de 1902, com um grupo de
intelectuais que se junta ao movimento anarquista, passa a fazer propaganda em
portas de fábricas e locais operários. Em 1903, lança o romance O
Ideólogo, produto desta convivência com os oprimidos da
cidade, tornando-se um dos precursores do romance social no Brasil, juntamente
com o escritor mineiro e também anarquista Avelino Foscolo.
Em 1904, Fábio Luz é dos que lutam pelo estabelecimento de uma
Universidade Popular de Ensino Livre de que será professor e onde manterá
consultório médico para atendimento aos alunos daquela iniciativa educacional.
Em seu exercício da medicina ele também manterá consultório no Méier, onde
reside e onde, atualmente, há uma rua com seu nome, pelo qual será conhecido
pelos pobres do bairro, do Engenho Novo e de outros subúrbios como um médico
que os examina gratuitamente e ainda lhes fornece dinheiro para a compra de
remédios. Luz promoveu campanhas a favor da higiene nas fábricas, locais de
trabalho, restaurantes, bares e cafés, tendo proferido conferências e escrito
nos jornais a respeito, como o folheto A Tuberculose do Ponto
de Vista Social, de 1913, em que mostra como as condições de
trabalho insalubres por descaso dos capitalistas levam à proliferação daquela
doença entre os trabalhadores. Ainda em sua própria casa, Luz ministrará,
informalmente, curso de idiomas a operários para que estes possam ter acesso a
obras de alcance sociológico e cultural impressas em outras línguas.
1906 é o ano da publicação de outro romance seu, Os
Emancipados, que dará nome a um importante grupo anarquista a que
ele estará filiado. Sua atividade como conferencista será enorme nos sindicatos
livres e eventos operários durante toda a sua existência. Em 1915, a publicação
de Elias
Barrão o consagra como escritor social. Porém, Luz também
envereda pela literatura infantil escrevendo livros como Memórias
de Joãozinho e Leituras de Ilka e Alba em
que procura passar valores éticos e sociais às crianças.
Como professor, lecionou no Colégio Pedro II (francês, português,
história e latim). Em colégios e centros de estudos sociais ensinou História do
Brasil, História Natural e Higiene. Dirigiu o Ateneu, depois Liceu Popular de
Inhaúma e foi professor de Artes e Ofícios na Escola Orsina da Fonseca.
Em 1920, sua colaboração no jornal anarquista diário Voz
do Povo levou-o à prisão, após a invasão e o empastelamento
daquela publicação pela polícia. Tal fato motivou a reorganização do grupo Os
Emancipados. Secretário-Geral do recém-fundado PCB, Astrojildo
Pereira tenta ridicularizar a figura de Fábio Luz, ao que este responde “às
infantilidades do sr. Astrojildo” que “nosso ditador já exerce as funções de um
pontífice bolchevista religioso; assim é que, inspirado pelos divinos poderes
bolchevistas, nomeia bispos e cria igrejinhas”. Em 1922, ano desta polêmica com
Astrojido, Luz estará à frente dos jornais anarquistas Luta
Social eRevolução Social. Como jornalista, além da imprensa
anarquista do Brasil e de outros países, colaborou também na imprensa
comercial, tendo exercido as funções de crítico literário, sendo seus artigos
recolhidos em diversos livros como A Paisagem no
Conto, na Novela e no Romance(1922), Estudos de Literatura (1927),Ensaios (1930)
e Dioramas (1934).
Em homenagem a este lutador social, tão injustamente esquecido
pela historiografia oficial e literária, seu nome foi colocado, em 2001, em uma
mais do que merecida homenagem, à Biblioteca Social que funciona no Centro de
Cultura Social do Rio de Janeiro, à rua Torres Homem 790, em Vila Isabel.
(Texto
publicado, originalmente, no informativo da Federação Anarquista do Rio de Janeiro.


Nenhum comentário:
Postar um comentário