A ilusão do Voto.
Coletivo Anarquista Bandeira Negra
Chegam as eleições e discursos pomposos de democracia são feitos em
todas as mídias. Candidatos assumem para si o dever de administrar e legislar
o bem público, tudo em nome da democracia. Querem nos fazer acreditar que o
maior símbolo de realização democrática é o exercício do voto e, é aqui que a
democracia aparece para a população, é só aqui que a “democracia” invade a vida
social.
O sistema de representatividade, vigente nas eleições, é criado e
mantido pelos grupos dominantes de nossa sociedade, os lacaios e exploradores
do povo que dessa forma mantêm seus próprios interesses, sejam políticos ou
econômicos. É uma ilusão pensar que, um partido, aliança ou indivíduo possa,
de fato, ser o mais fiel representante de milhares e milhares de pessoas. O que
está em jogo é, na verdade, uma luta das elites pelo poder e o trabalhador não
passa de uma mera marionete no meio dessa disputa.
Cada vez mais, a política passa a ser encarada com total descrédito
pela massa. A cultura do delegacionismo – “eles farão por mim” – cria uma falsa
ilusão de que a política é suja e deve ser praticada apenas pelos políticos
profissionais, a “política para os políticos”.
O verdadeiro
sentido das eleições não é o de levar adiante um processo democrático de
inclusão e participação popular, onde a população possa aumentar a sua participação
nas esferas de decisão, mas o de representar um retrocesso e um distanciamento
fazer política – este é o
principal objetivo dos partidos envolvidos nesse processo, o logro das
eleições com o número de votos.
Os partidos de esquerda, comumente chamados de populares, hoje
encostam-se no muro da moderação, tornando-se conciliadores de classe.
Alimentam a falsa esperança de que uma mudança de fato poderá ocorrer, caso se
elejam alguns autodenominados representantes do povo. Em vez disso,
apropriam-se da manutenção de um sistema eleitoral, político, jurídico,
econômico e social totalmente controlado pelas elites.
No perfil das siglas, o que se observa, apesar de muitos partidos se considerarem
da situação ou da oposição, é que o quadro permanece inalterado: quem sobe e
quem desce faz parte de um jogo de dominação e exploração que necessita
subsistir para sua continuidade, para a manutenção de um Estado que defenda os
interesses dos poderosos e se apresente para o povo como democrático.
O atual regime, de usurpação e espoliação do trabalho e da natureza,
busca através do sufrágio universal sua legitimidade. A adesão de suas vítimas
– cidadãos (dimensão política) e trabalhadores (dimensão econômica), nos
mecanismos do Estado, chancela o que este mesmo representa: a tomada de posse
do Poder pela classe dominante. Já dizia Sebastien Faure “O Estado é o guardião
das fortunas adquiridas; é o defensor dos privilégios usurpados; ele é a muralha
que se ergue entre a minoria governante e a multidão governada; é o dique alto
e largo que põe um punhado de milionários ao abrigo dos assaltos que lhe lança
a torrente agitada dos espoliados.”
Está aberta a caçada! Candidatos disputam com propostas, personalismo,
estratégias de marketing, cada eleitor, ou melhor: cada voto. Pois basta olhar
para o espetáculo marcado por drama, comédia, farsa, do trágico ao
sentimental, para perceber sua obsessão pelo voto. E ainda proclamam que votar
é realizar um dever sagrado. Mas sejamos justos: em alguns partidos que fazem
parte desse jogo, impregnado de podridão, existem homens e mulheres
honestos(as), que procuram de fato ajudar as suas comunidades ou os movimentos
sociais que pensam representar. No entanto, além de somarem uma reduzidíssima
quantidade, encontram-se perdidos no meio de tanta corrupção e falsos acordos
e, se não acabarem incorporados ao esquema fétido, estarão reduzidos à
impotência.
O período eleitoral, no lugar de representar um período democrático e
de participação popular, representa de fato um pequeno período onde entregamos
nosso poder de fazer política, de discutir as questões da cidade, do estado ou
da nação e de decidir sobre elas, àqueles que se apresentam como políticos
profissionais. Permitimos que eles decidam nossas vidas por nós, decidam sobre
as creches, os hospitais, as escolas, sobre nossos salários, sobre o preço da
nossa comida, nos roubem através de impostos e nos façam sustentá-los em seus
palácios cheios de privilégios concedidos por nós.
Afinal, já dizia Elisée Reclus, geógrafo francês: “votar significa
abrir mão do próprio poder. Eleger um senhor, ou muitos senhores, seja por
longo ou curto prazo, significa entregar a uma outra pessoa a própria
liberdade” . Criticando radicalmente o modelo atual de representatividade, votar
é legitimar as origens do Estado, é fortalecer seu poder, ser cúmplice de seus
crimes. É delegar nosso poder de decisão a outros.
O sistema de eleição reflete um absurdo: acreditar que alguém possa
emitir opinião e legislar sobre todas as questões: saúde, agricultura,
transporte, comércio, indústria, educação, guerra, moradia, etc., e até mesmo
sobre seu próprio salário (??!!). Permite que o banditismo e a corrupção façam
parte do dia-a-dia da administração do bem público.
Não acreditar no jogo das eleições é apenas um passo que podemos dar,
porém, para que ele seja efetivo de fato, devemos ir além e participar da vida
política da cidade, de nossos bairros, de nossas escolas, hospitais, creches.
Precisamos nos organizar, entre nossos pares e ir às ruas quando aumentam a
tarifa de ônibus, o preço do pão, quando fecham nossas escolas, quando
precisamos de mais hospitais, quando privatizam a saúde, a educação, etc.
Precisamos dar uma lição nesses políticos e esta lição vem das ruas,
como demonstraram recentemente vários companheiros trabalhadores de outros
países: na Argentina, após a era Menem, os panelaços derrubaram 5 presidentes
em 2 semanas; na Bolívia, o povo enfrentoua privatização da água; no
Equador, também foram destituídos presidentes; mais recentemente, os povos
árabes demonstraram sua capacidade de luta contra os velhos ditadores que, por
anos exploravam o povo. Nos anos de 2004 e 2005, em Florianópolis, fomos às
ruas e logramos a redução daquela tarifa que a prefeitura tentou impor. Isso é
fazer política além do voto! A capacidade de mobilização popular gera uma força
social que, se não contida pelos poderes reacionários do Estado, pode causar
sérios danos à estrutura de dominação e exploração.
Nosso poder está nas ruas, nosso poder é popular. Enquanto
uns votam com os de cima, nós escolhemos lutar com os de baixo, o povo,
aqueles que vivem sustentando essa injusta pirâmide social que representa a
nossa sociedade desigual e desumana.
Viva o Poder Popular!


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