Emma Goldman - 1869/1940
A
dúvida reina no espírito dos homens, porque a nossa civilização treme nas suas
bases.
As
instituições atuais não inspiram mais confiança e os mais inteligentes
compreendem que a industrialização capitalista vai ao encontro dos próprios
fins que ela entendeu empreender.
O mundo não sabe como sair disso. O parlamentarismo e a democracia fraquejam e alguns acreditam encontrar uma salvação optando pelo fascismo ou por outras formas de governos fortes.
Do combate ideológico mundial sairão soluções para os problemas sociais urgentes que se colocam atualmente (crises econômicas, desemprego, guerra, desarmamento, relações internacionais, etc.). Ora, é destas soluções que dependem o bem estar do indivíduo e o destino da sociedade humana
O Estado,
o governo com as suas funções e poderes, torna-se assim o centro de
interesses
do homem que reflete. Os desenvolvimentos políticos que se têm dado em
todas as
nações civilizadas levam-nos a colocar estas questões: Queremos um governo
forte?
Deveremos preferir a democracia e o parlamentarismo? O fascismo, de uma forma
ou de
outra, a ditadura quer seja monárquica, burguesa ou proletária - oferecerão
soluções
para os males ou para as dificuldades que assaltam a nossa sociedade? Por
outras
palavras, conseguiremos fazer desaparecer as taras da democracia com a ajuda de
um sistema
ainda mais democrático, ou antes, deveremos resolver a questão do governo
popular com a espada da ditadura? A
minha resposta é: nem com um nem com a outra.
Eu sou
contra a ditadura e o fascismo, oponho-me aos regimes parlamentares e às
chamadas
democracias políticas. Foi com razão que se falou do nazismo como de um
ataque
contra a civilização. Poder-se-ia dizer o mesmo de todas as formas de ditadura,
deopressão e de coação. Vejamos, o que é a civilização? Todo o progresso foi essencialmente
marcado pelo aumento das liberdades do indivíduo em desfavor da autoridade
exterior tanto no que respeita à sua existência física como política ou
econômica. No mundo físico, o homem progrediu até submeter às forças da
natureza e utilizá-las em seu próprio proveito. O homem primitivo dá os seus
primeiros passos na estrada do progresso assim que consegue fazer brotar o
fogo, reter o vento e captar a água, ultrapassando-se a si próprio.
Que papéis
tiveram a autoridade ou o governo neste esforço de melhoramento, de
invenção e
descoberta? Nenhum, ou antes, nenhum que fosse positivo. É sempre o
indivíduo
que consegue o êxito, apesar, geralmente, das proibições, das perseguições e da
intervenção da autoridade, tanto humana como divina.
Do mesmo
modo do domínio político, o progresso consiste em afastar-se cada vez mais da
autoridade do chefe da tribo, do clã, do príncipe e do rei, do governo e do
Estado.
Economicamente,
o progresso significa mais bem-estar para um número sempre
crescente.
E culturalmente, é o resultado de tudo o que se consegue para, além disso,
independência
política, intelectual e psíquica cada vez maior.
Nesta
perspectiva, os problemas de relação entre o homem e o Estado revestem um
significado
completamente novo. Não se trata mais de saber se a ditadura é preferível à democracia,
se o fascismo italiano é superior ou não ao hitlerismo. Uma questão muito mais
vital se coloca, então, a nós: o governo político, o Estado, será proveitoso à
humanidade
e qual é a sua influência sobre o indivíduo?
*


Nenhum comentário:
Postar um comentário