Noivas do Cordeiro
A história da Comunidade Noiva do Cordeiro remete aos anos de 1890, quando Maria Senhorinha de Lima toma uma decisão que, para a época, era vista como inaceitável. Moradora de Roças Novas, povoado do município de Belo Vale, ela casou-se com o francês Arthur Pierre e, após três meses de vida conjugal, resolveu abandonar o marido e viver com Francisco Augusto Fernandes de Araújo, conhecido como Chico Fernandes. Da união nasceram os filhos: Francisco, Maria Matozinhos, Vicente, Geralda, Genoveva, Beniga, Antônia e Ramiro.
A união de Maria Senhorinha e Chico Fernandes repercutiu negativamente para os moradores da região de Belo Vale, principalmente junto à Igreja Católica local, que os excomungaram, a eles, e aos membros da família até a quarta geração. De acordo com Maria Olímpia Alves de Melo, “a Igreja a excomungou e ela tornou-se pária. Prostituta.”
Um dos filhos do casal, Francisco Fernandes Filho, casou-se com Geralcina Maria de Jesus e tiveram doze filhos: Isaias, Delina, Elias, Jeremias, Azarias, Urias, Ari, Edes, Juraci, Jurandir e Valdete. Dentre esses, um dos membros mais expressivos na comunidade é Delina, hodiernamente a matriarca da Noiva do Cordeiro.
O preconceito que acompanhou Maria Senhorinha e seus filhos, também atingiu a geração seguinte e, conforme é descrito por Maria Olímpia, “como se atingido por um raio, o preconceito se alastrou e envolveu toda a sua descendência. Filha de prostituta é. E a coisa ficou feia por várias gerações, obrigando-os a viver de forma isolada, sem contato com outros povoados e cidades da região. Nem se tivessem doenças contagiosas, seriam tão segregados."
O preconceito que acompanhou Maria Senhorinha e seus filhos, também atingiu a geração seguinte e, conforme é descrito por Maria Olímpia, “como se atingido por um raio, o preconceito se alastrou e envolveu toda a sua descendência. Filha de prostituta é. E a coisa ficou feia por várias gerações, obrigando-os a viver de forma isolada, sem contato com outros povoados e cidades da região. Nem se tivessem doenças contagiosas, seriam tão segregados."
Para a historia da Comunidade Noiva do Cordeiro, essa é uma das fases cruciais. Segundo relatos de moradores, nos anos de 1940, um pastor evangélico, Anísio Pereira, começou um trabalho de evangelização na região e, em suas idas a essa comunidade isolada, expressou o interesse de casar-se com uma das moradoras, Delina Fernandes Pereira. Na época do casamento, Delina estava com 16 anos e Anísio com 43 anos. Da união nasceram doze filhos: Areli, Rosalee, Vasseni, Arodi, Vanderli, Noeli, Vasseli, Gideoni, Leoni, Elieny, Elaine e Keila.
Anísio Pereira fundou uma igreja dentro da comunidade, chamando-a Igreja Evangélica Noiva do Cordeiro, e esse passou a ser o nome da comunidade que ali vivia.
O isolamento vivido pelas gerações passadas manteve-se e tornou-se ainda mais agudo, seja pelo preconceito das comunidades vizinhas, seja pelas rígidas regras impostas pelo pastor Anísio: isolamento, preconceito, jejum e pobreza tornaram-se marca da Comunidade Noiva do Cordeiro.
O isolamento vivido pelas gerações passadas manteve-se e tornou-se ainda mais agudo, seja pelo preconceito das comunidades vizinhas, seja pelas rígidas regras impostas pelo pastor Anísio: isolamento, preconceito, jejum e pobreza tornaram-se marca da Comunidade Noiva do Cordeiro.
As mudanças só viriam a ocorrer nos anos de 1990. Entre os membros da Igreja, alguns começaram a questionar sobre as regras impostas pela doutrina. Em depoimento ao documentário do cineasta Alfredo Alves, Maria Doraci de Almeida e Delina Fernandes Pereira se lembram do casamento de uma das filhas de Delina: “o seu desejo era que houvesse música na Igreja (...) muitos jovens nunca tinham dançado ou ouvido música, e dançou também, e gostou.”
Esse acontecimento, aliado aos vários questionamentos sobre as regras impostas, levaram alguns participantes a se distanciarem da Igreja. Algum tempo depois, a Comunidade decidiu por extinguir a Igreja daquele local de maneira definitiva: lá não existia mais uma religião institucionalizada, seja ela evangélica, católica, ou de outro credo. O pastor Anízio Pereira faleceu em 1995.
Alegam os membros da comunidade que o preconceito enfrentado era vivenciado pelas crianças nas escolas, no acesso à saúde e aos postos de trabalho, além do preconceito expresso nos olhares dos moradores da região: as mulheres de Noiva do Cordeiro ainda carregavam o estigma de prostitutas.
Mas o que, realmente, é Noiva do Cordeiro? Trata-se de uma localidade de Minas Gerais, na área rural de Belo Vale a cem quilômetros de Belo Horizonte, onde vivem aproximadamente 250 mulheres e suas famílias.
Mas o que, realmente, é Noiva do Cordeiro? Trata-se de uma localidade de Minas Gerais, na área rural de Belo Vale a cem quilômetros de Belo Horizonte, onde vivem aproximadamente 250 mulheres e suas famílias.
Os homens, quando chegam a idade adulta, saem para trabalhar; ficam fora de segunda a sexta-feira e retornam nos fins de semana. A comunidade é mantida pelas mulheres, sendo que o isolamento fez com que elas criassem um mundo de regras próprias.
No loca de 16 hectares, além de um casarão centenário, há outras residências. Em um delas, com quase vinte cômodos, vive a matriarca da Comunidade Noiva do Cordeiro, Delina Fernandes Pereira, e outras quase cinquenta pessoas.
Os trabalhos das mulheres são divididos: há as que cozinham, costuram e as que lavram a terra. Em Noiva do Cordeiro, ao invés de cada família plantar separadamente, os moradores optaram por plantar em uma só área, onde todos ajudam a preparar a terra, capinar, cultivar e colher. Tudo o que é produzido, é para consumo próprio, nada é comercializado. O plantio é, principalmente, de milho, arroz, feijão e abóboras. No final da colheita, o que foi produzido é armazenado, garantindo alimentos até a próxima safra. Além da produção dos alimentos, a comunidade cria porcos, galinhas, peixe e gado, também destinados para o sustento próprio.Em toda zona rural do Estado de Minas Gerais, a população tem grande dificuldade de sobrevivência, o que sempre leva os cidadãos à pratica do êxodo rural, superlotando as periferias das metrópoles. Pensando nisso, em novembro de 1999, as trabalhadoras rurais de Noiva do Cordeiro, Rosalee e Sônia, convidam as donas de casa para reunirem suas máquinas de costura domésticas, começando a confeccionar lingeries. Lucileia se responsabilizou pela parte das Vendas. Então combinaram entre si pagar os gastos, reservar uma parte para compra de máquinas e dividir a sobra entre todas as envolvidas. Em 2000 o Presidente da ACNC Iran Leite, Rosalee e Lucileia lutaram e conseguiram, através do Pro-renda Rural MG realizar um curso de corte e costura para 19 (dezenove) mulheres.
Foi um grande avanço para a comunidade, pois as mulheres sentiram-se motivadas e resolveram diversificar a produção e começaram também a fazer tapetes, roupas, colchas de retalho, etc. Durante esses anos o Presidente Iran Leite continuou buscando doação de retalhos nas empresas da capital de Minas o que ajudou na continuidade do projeto, pois além de ampliar a produção reduz os custos das peças.
Realizavam-se desfiles quando criavam um novo modelo e as próprias costureiras e donas de casa desfilavam, visando divulgar o produto no município. Após varias tentativas sem efeito, os desfiles foram cancelados, mas as mulheres continuaram investindo em sua criatividade. Combinaram ente si que Lucileia precisava de ajuda no serviço de vendas. Claudia, Flavia, Vilma e Lucilene, começaram a ir para Belo Horizonte trabalhar como vendedoras.



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