Powered By Blogger

segunda-feira, 12 de março de 2012


A Educação Popular e Suas Perspectivas

A educação popular, primeiramente, foi entendida como uma modalidade, uma extensão dos serviços da escola àquelas pessoas que, aparentemente, não tinham acesso a educação ou estavam a margem dela. Depois de algum tempo é que ela foi entendida como um conjunto de lutas para que a educação fosse realmente acessível ao povo. A educação popular vinha sendo construída, primeiramente, com conhecimentos do cotidiano e entendida como o saber popular que não era considerado pelos currículos escolares. No começo da história da educação no Brasil, Azevedo (1976), que diz que ao educar os índios, os negros, os mestiços, a companhia de Jesus implantou o que seria a semente da educação popular. É claro que há os que discordam desta posição, mas no seu contexto histórico, qualquer educação voltada para o povo seria considerada educação popular. No século XX escolas formais foram se concretizando na América Latina que procuravam afirmar os princípios liberais de igualdade e justiça. Com isso começaram os movimentos de trabalhadores, educadores, intelectuais e etc., para obrigar o Estado a se responsabilizar pela educação formal e para todos, com o apoio e interesse de empresários que viam uma grande margem de lucro em trabalhadores bem formados. Foi com os movimentos populares que nasceu a discussão de uma educação que atendesse as necessidades do povo e que ampliasse a relação entre Estado, sociedade e educação das classes populares. Mas foi após a 1º Guerra Mundial que começou uma ampla luta por uma educação que seria a primeira educação popular visando reduzir o analfabetismo que tinha índices muito elevados. Brandão (1984), considera que a educação popular teve duas divisões temporais: o primeiro antes da divisão social do saber e da criação de escolas, e o segundo na luta pela democratização do ensino, a partir do séc XIX. Este conceito se desenvolve no que Gadotti (1991), nos mostra como educação popular, em que se busca melhorar as condições psicológicas e, consequentemente, materiais, através de movimentos populares trabalhando a conscientização, em grupos de base, comunidades, etc. Os primeiros escritos que trazem uma nova forma de ver a educação popular são os de Paulo Freire em “Prática cultural para a liberdade” que apresenta uma nova responsabilidade à educação não só popular, mas que se preocupe com o bem estar dos indivíduos. Segundo ele a educação deveria, primeiramente, transformar sistemas tradicionais de ensino e construir uma proposta de re-escrever a prática pedagógica, repensando o sentido político da educação. Mas esse processo de transformação deve dar-se no coletivo, pois pessoa nenhuma transforma a sociedade sozinha. Pela primeira vez constrói-se uma perspectiva em que realmente há possibilidade e transformação a partir da base de onde nasce essa educação. Com a possibilidade de educação do povo, o saber popular se fortalece e resulta em uma tentativa de transformação da ordem social dominante. O horizonte que a educação popular traz é, segundo Brandão (1984, p.103 ), “A educação através da qual ele o sujeito não se veja apenas como um anônimo sujeito da cultura brasileira, mas como um sujeito coletivo da transformação da história e da cultura do país.” Hoje, a educação popular ultrapassa o nível das comunidades e bairros para influenciar nos sistemas educacionais de ensino como podemos observar nas diretrizes curriculares do Estado do Paraná: As Diretrizes Curriculares para a Educação Pública no Estado do Paraná chagam as escolas como um documento oficial que traz as marcas de sua construção: a horizontalidade, que abraçou todas as Escolas e Núcleos Regionais de Educação do Estado e a polifonia, que faz ressoar nelas as vozes de todos os professores das Escolas Públicas paranaenses. Este documento que traz, em si, o chão da escola e traça estratégias que visam nortear o trabalho do professor e garantir a apropriação do conhecimento pelos estudantes da rede pública. Os mesmos princípios democráticos que fundamentam a construção destas Diretrizes solicitam dos professores, o engajamento na contínua reflexão deste documento, para que sua participação crítica, constante e transformadora efetive, nas escolas de todo o Estado, um currículo dinâmico e democrático. (Disponível em: <http://www8.pr.gov.br/portals/portal/diretrizes/index.php  > ) Segundo Gadotti (1991), “Essa tendência da educação popular firma-se cada vez mais com os governos democráticos e com a conquista de fatias importantes de poder por partidos populares.” A educação popular não tem uma metodologia pronta, uma cartilha a ser seguida. Parte dos conhecimentos de cada sujeito. Porém há alguns pontos de partida para identificarmos e começar o trabalho nas comunidades e/ou escolas como menciona BRANDÃO (1984): A cultura popular, trabalhando com a identificação dos componentes da cultura que são dominados pelas ideologias capitalistas e a produção de uma cultura que nasce deles mesmos; A influencia e participação efetiva do educador como possibilitador do processo de transformação do sujeito popular em agente político; A construção do conceito de saber popular; A construção de práticas pedagógicas entre, educador-educando, características de cada grupo e identificação dos educandos individuais (sujeitos populares) ou coletivos (movimentos populares). Brandão (1984, p. 72), deixa mais claro esse conceito da metodologia: "A educação popular é mais um modo de presença assessora e participante do educador comprometido, do que um projeto próprio de educadores a ser realizado sobre pessoas e comunidades populares. Ela se realiza em todas as situações onde, a partir da reflexão sobre a prática de movimentos sociais e movimentos populares, as pessoas trocam experiências, recebem informações, criticam ações e situações, aprendem e se instrumentalizam. A educação popular não é uma atividade pedagógica para, mas um trabalho coletivo em si mesmo, ou seja, é o momento em que a vivência do saber compartido cria a experiência do poder compartilhado." As classes populares produzem saberes ligados às suas experiências de vida e ao contexto social em que estão inseridos. A educação popular valoriza e problematiza esses saberes, sem subjugá-los pelos saberes eruditos, entretanto articulando um ao outro. É para contrariar a separação entre o conhecimento erudito e o popular numa sociedade desigual que surge a Educação Popular, que é uma educação comprometida e participativa orientada pela perspectiva de realização de todos os direitos do povo. Ela é vista como um ato de conhecimento e transformação social . A educação popular ao cruzar as fronteiras da escola, busca o resgate da cidadania e a necessidade de inclusão em todos os sentidos por isso é direcionada as camadas populares,voltada para suas necessidades e atendendo aos seus interesses. Conforme Freire (1995, p. 59), “(...) uma sociedade desafiada pela globalização da economia, pela fome, pela pobreza, pelo tradicionalismo, pela modernidade e até pós-modernidade, pelo autoritarismo, pela democracia, pela violência, pela impunidade, pelo cinismo, pela apatia, pela desesperança, mas também pela esperança”. É nessa realidade que se encontra a educação popular e o desafio da formação de uma cultura político-democrática e cidadã das classes populares. A Educação Popular visa a formação de sujeitos com conhecimento e consciência cidadã e a organização do trabalho político para afirmação do sujeito.“A conscientização é uma das fundamentais tarefas de uma educação realmente libertadora e por isso respeitadora do homem como pessoa” (FREIRE, 2002, p. 45). É uma estratégia de construção da participação popular para o redirecionamento da vida social. O resultado desse tipo de educação é observado quando o sujeito pode situar-se bem no contexto de interesse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário