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De um dia para o outro, a legalização do aborto virou tema de campanha presidencial. Na verdade nem foi a legalização ou não, mas a posição de Dilma sobre o assunto.
Para começo de conversa, a legalização do aborto não é tema de campanha presidencial. Devemos estar preocupados é se ela vai ser ou não uma boa presidente, se vai fazer algo pelo saneamento, se vai derrubar a taxa de juros, e não o que ela pensa sobre temas que não tem a ver com sua atuação. Quem decide sobre isso são os parlamentares, e não a Presidente da República.
O terrorismo eleitoral sobre Dilma Rousseff é muito parecido com o temor das privatizações, que a campanha de Lula de maneira competente jogou sobre Alckmin e o PSDB em 2006. Muda-se a temática, mas a tecnologia mercadológica é exatamente a mesma. Ainda não sabemos se surtirá efeito, mas a concepção de conceito é muito semelhante.
Naquele exato momento as privatizações estavam longe de ser tema de campanha, até porque o PSDB já tinha vendido praticamente tudo o que podia. Sobrou apenas a Petrobrás e os dois bancos, que só não foram vendidos antes porque interessava ao próprio PSDB manter estas estruturas. Mas a campanha de Alckmin, assim como a de Dilma, não soube responder aos questionamentos.
No caso da discussão do aborto, que é um debate sem a menor importância na agenda presidencial, foi levantada por uma parte da esquerda que apoiava Dilma (a militância, não a candidata), além de Plinio de Arruda Sampaio. O tema foi levantado exaustivamente, com o objetivo de encurralar Marina e colocá-la em uma situação desconfortável, passando uma imagem de uma pessoa retrógrada e ligada às igrejas evangélicas. Marina correu deste debate porque sabia que não levava a nada, e seu posicionamento não tinha a menor importância na agenda do país. Mas a insistência sobre isso não acabou até o final da campanha. Basta ler os comentários em blogs para perceber o que estou falando.
Só que o debate se voltou contra Dilma Rousseff, que está tendo que se explicar a cada momento sobre sua posição sobre a legalização ou não do aborto.
A campanha de Serra está sendo acusada de terrorismo, mas ela está apenas fazendo a sua parte. Que empobrece o debate não há dúvidas, mas em campanha eleitoral isso é a última coisa em que os marqueteiros estão pensando.
Toda essa confusão não é obra do acaso. É produto da confusão ideológica dos principais partidos do Brasil. o Governo Lula é a prova disso, onde ruralistas convivem com o MST, banqueiros convivem com desenvolvimentistas, e religiosos se abraçam com todo mundo. Como não cabe todo mundo dentro do mesmo barco, basta colocar um tema espinhoso que é o maior “Deus nos acuda”. Para algumas coisas não existirá consenso. E isso também não era muito diferente no Governo FHC.
No caso do crescimento das igrejas evangélicas, vale ressaltar que o próprio Governo pouco fez para frear o crescimento destas. Basta verificar a quantidade de horas compradas nas TV´s, e a votação de candidatos pastores que nunca ouvimos falar, e perceber que algo de errado está acontecendo. Essa turma do “pastoril” que anda de jatinho não aguenta dois dias de investigação da Polícia Federal. Está aí o Casal Hernandez para provar.
Como o nível educacional é baixo, sob o manto sagrado aparece a obscura figura de um pastor ou presbítero candidato, com uma votação absurdamente alta, sem que estes saibam sequer o que significa uma lei. Isso quando muitos deles não vão lá apenas para praticar a rapinagem, como os Bispos Rodrigues da Vida, o que inclusive difama a imagem de instituições não radicais, como a Igreja Católica, a Batista e a Presbiteriana, que não fazem parte do jogo sujo.
De maneira ainda mais equivocada, uma parte das lideranças e da militância de Dilma resolveu atacar Marina e seus eleitores, chamando-os de traidores e idiotas, como se todo mundo fosse obrigado a aceitar a imposição pelo nome de Dilma.
Votei em Marina por absoluta convicção, e por achar que o debate precisava ser ampliado. Poderia ter votado em Ciro Gomes também, mas este foi cruelmente rifado.
O que a campanha de Dilma precisa neste momento é atrair o eleitorado de Marina, e não afastá-lo. Há muito mais o que aproxime de Dilma do que de Serra. Mas não será agredindo as pessoas que conseguirá juntar. Deveriam seguir o exemplo de Ciro, que foi coordenar a campanha, e imediatamente tratou de buscar o eleitorado de Marina.
Mas isso a dinâmica da campanha é que vai dizer.
Erra também que a maioria deste eleitorado é formada por evangélicos, pois uma parte significativa das igrejas estava apoiando Dilma desde o início. O eleitorado de Marina é formado majoritariamente por cidadãos cansados da arrogância e do vale-tudo, e enxergou na candidata algo novo, o que é totalmente legítimo. Não queriam a volta ao passado, mas não engoliram a opção de Lula, mesmo aprovando o seu Governo.
Uma coisa é certa: do mesmo jeito que para mim não tinha a menor importância a posição de Marina sobre o aborto, também não quero nem saber a de Dilma sobre o assunto.
Eu estou escolhendo uma presidente, e não uma parteira.

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